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No início da década de 1920, economistas como Maffeo Pantaleoni, Umberto Ricci e Alberto De’ Stefani começaram a promover, no meio acadêmico, a ideia de uma “economia pura”, na qual o Estado de bem-estar social e as conquistas trabalhistas — como salários e regulamentação da jornada — eram relegados a um plano secundário, enquanto o dogma do laissez-faire era elevado à prioridade máxima.
“As privatizações em larga escala foram a solução PERMANENTE para impor a metade complementar do lema de austeridade: ‘produzir mais’. Despojados do monopólio estatal do período de guerra, os trabalhadores seriam disciplinados para competir no livre mercado de trabalho — competição tão acirrada que as greves se tornariam ‘impossíveis’.”
— Maffeo Pantaleoni
É importante entender que essa era a visão desses economistas sobre o mundo que estudavam. Não se trata de reduzi-los a uma caricatura de “malvados por cortarem gastos”. Apesar de a austeridade liberal do século XX ter contribuído para a acumulação de capital e a queda dos salários, eles genuinamente acreditavam que, sem uma economia estável, a ordem social ruiria.
No entanto, a despolitização da economia nesses termos nunca beneficiou a classe trabalhadora. Pelo contrário, ela culpou a população pelas crises econômicas da época, retratando os trabalhadores como consumidores irresponsáveis, enquanto os poupadores e investidores eram vistos como merecedores de benefícios estatais.
“Quando há um governo que dá subsídios aos desempregados, nasce a tentação de ficar desempregado (nasce la tentazione di disoccuparsi) para receber o subsídio, trabalhar menos e produzir menos.”
— Umberto Ricci“[…] em vez de impedir a amortização de capital pressionando as poupanças que podem ser reinvestidas e que têm sido transferidas do Estado para a ação econômica privada, é melhor PRESSIONAR o consumo, e isso no verdadeiro e definitivo interesse das populações desfavorecidas.”
— Alberto De’ Stefani
Apesar de defenderem cortes de gastos e restrições ao consumo para a população em nome do livre mercado, esses mesmos economistas não hesitaram em apoiar as medidas ditatoriais de Mussolini contra sindicatos, cortes salariais, perseguições políticas e o terror contra o movimento operário. Além disso, quando o corporativismo foi implementado na Itália com a Carta del Lavoro, o Artigo 7 declarava:
“O Estado corporativo considera a iniciativa privada, no campo da produção, o instrumento mais eficiente e útil da nação […] a intervenção do Estado na produção econômica pode acontecer onde a iniciativa privada é ausente ou insuficiente.”
O economista Gustavo Del Vecchio chegou a elogiar essa medida como “uma personificação histórica dos princípios econômicos enunciados por Pantaleoni, concentrados na exaltação dos empreendedores inovadores”.
Essa despolitização da economia em prol do mercado também se repetiu na Grã-Bretanha, com figuras como Ralph George Hawtrey, Otto Niemeyer e Basil Blackett, que implementaram cortes salariais, aumento de juros, redução de impostos para empresas privadas e ondas de desemprego.
A economia, como campo de estudo, possui suas leis, mas elas não são dogmas imutáveis como as da física ou da matemática. São tendências baseadas no comportamento humano — um objeto volátil e sujeito a incertezas, como bem destacou Jean Piaget.
Em suma, a despolitização da economia foi um desastre para a classe trabalhadora e deve ser rejeitada por qualquer perspectiva que priorize os direitos laborais.
O movimento trabalhista deve ir contra a elite econômica
“As classes financeiras estão dispostas a tentar destruir quem ameace sua riqueza e prerrogativas.”
Essa frase, que poderia ser atribuída a um marxista contemporâneo, foi dita pelo presidente Franklin D. Roosevelt durante sua campanha de reeleição nos anos 1930, após a divulgação de seu projeto de Seguro Social. A proposta foi duramente atacada por economistas de Wall Street, que espalharam cartazes nas fábricas afirmando:
“Os operários foram condenados a uma redução semanal de seus salários durante toda sua vida de trabalho. Tereis de cumprir a sentença, se no dia 3 de novembro não ajudardes a eliminá-la.”
A grande mídia, como os jornais de Hearst, também se opôs:
“Desejais um rótulo e um número em nome de uma falsa segurança?”
O argumento era que o Seguro Social seria apenas mais um mecanismo para extrair impostos dos trabalhadores e gastá-los de forma ineficiente. Mas estavam errados: o programa foi essencial para evitar uma nova depressão como a de 1929, onde a economia entrou em colapso por alta demanda e oferta insuficiente.
O ponto crucial é que Roosevelt, mesmo sendo um capitalista, enfrentou a resistência dos grandes negócios ao priorizar a recuperação econômica de baixo para cima — com medidas trabalhistas, seguro-desemprego, intervenção estatal, juros baixos e fortalecimento dos sindicatos.
Não se trata de ignorar análises econômicas, mas de reconhecer que a política deve servir aos interesses da maioria, não de uma elite tecnocrática que muitas vezes recorre a axiomas matemáticos divorciados da realidade.
Por uma economia heterodoxa e utilitária
Como movimento trabalhista, devemos ir além do discurso demagógico e adotar uma abordagem econômica que priorize a circulação de riqueza e o bem-estar quantitativo da população. Isso significa abandonar dogmas como o ceteris paribus (“todo o mais constante”) e reconhecer que a economia está sujeita à volatilidade e a contextos históricos.
Durante a Primeira Guerra Mundial, por exemplo, o Reino Unido abandonou o laissez-faire e nacionalizou mais de 80% das indústrias para sustentar o esforço de guerra. Isso demonstra que não há axiomas absolutos na economia — e que medidas heterodoxas podem ser necessárias em momentos de crise.
Como afirmou Alfred Marshall, um dos fundadores da escola neoclássica:
“Parece duvidoso que qualquer pessoa gaste seu tempo lendo longas traduções das doutrinas econômicas para a matemática.”
Portanto, a juventude trabalhista deve adotar uma visão econômica flexível, baseada em análises concretas, necessidades populares e rejeição à despolitização que só serve aos interesses de uma minoria.
Referências
MATTEI, Clara E. A ordem do capital.
BROOKWAY, George P. A morte do homem econômico.
COOK, Fred J. O estado militarista.