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Ocorreu no último domingo (24/09/25) o primeiro Fórum pelo Novo Trabalhismo. No dia que marcou 71 anos da morte heroica de Vargas, foi um encontro profícuo de vários movimentos sociais e intelectuais que, cada um à sua maneira, vê nas raízes do Trabalhismo a única sustentação para o Brasil.
Meu objetivo aqui não é fazer um resumo do Fórum, nem um balanço do que aconteceu e muito menos propor alguma definição para o Novo Trabalhismo. Isso não é tarefa de uma pessoa só, mas do povo brasileiro, seus movimentos e seus intelectuais orgânicos.
Quero tão somente dar minha síntese pessoal do que considero ser seus pontos ideológicos mais importantes. Deixo de fora questões práticas e econômicas, e me concentro aqui na sua cosmovisão.
As palavras aqui são minhas, mas suas ideias são dos que estavam lá, daqueles que considero alguns dos principais ideólogos brasileiros vivos. Mesmo sem citar todos eles aqui, suas ideias reverberam em mim, no Brasil que vejo e desejo viver.
Como falado por um dos organizadores do Fórum, Leandro Louro, a elaboração do Novo Trabalhismo não é porque há um Trabalhismo velho, ultrapassado, tacanho para lidar com o Brasil atual e seus novos problemas. Justo pelo contrário.
O Trabalhismo é guia, é orientação para o Brasil de ontem, de hoje e de amanhã. Porque sendo a ideologia de base da estrutura do Brasil moderno, é farol para o país prenhe de possibilidades à espera de ser a nova referência de sociabilidade para o mundo.
Mas como toda e qualquer ideologia, ele também deve ser atualizado. Junto com os antigos, há fenômenos sociais que não existiam antes. Há mudanças nas relações de trabalho, transformações tecnológicas da eletrônica digital, administrativas, desafios econômicos e geopolíticos de um país pós redemocratização e um mundo pós primaveras que impõem uma necessidade histórica de não apenas destacar as definições do Trabalhismo para o Brasil, mas também de avaliá-las. E por consequência, consolidar sua essência para o futuro das nossas vidas e das próximas gerações.
O professor Gustavo Castañon nos lembrou que o Trabalhismo brasileiro é plural e diverso, porque os movimentos sociais são assim, porque o povo brasileiro é plural e diverso. Mas, obviamente, há um núcleo comum, um conjunto de ideias que define, e assim se distingue, de outros entendimentos e propostas pra construção do nosso país. A partir de toda a diversidade e pluralidade do nosso povo, o Trabalhismo é a reunião desse núcleo comum, é a inclusão longeva de um sonho que diz respeito a todas as dimensões do e para o Brasil, nossa economia, política e cultura.
O Trabalhismo foi e é a reunião de um país à beira da fragmentação; é o cimento do Brasil contra todas as lufadas do mundo e os corpos estranhos que tentam parasitar o país. O Trabalhismo é o esqueleto e o sistema imunológico do Brasil.
Em seu livro O quinto movimento: proposta para uma construção inacabada, o ex-ministro Aldo Rebelo defende que o Brasil foi construído segundo quatro movimentos: formação da base física; independência política; sua consolidação e unidade territorial; formação da república e a reestruturação com a revolução de 1930. Rebelo também propõe que o quinto movimento seja a continuação da construção do país em todas as suas dimensões baseada em sua história própria. O quinto movimento requer aquilo que esteve presente em todos os seus antecessores: a centralidade inalienável da ideia e da prática de nação.
Em sua fala no Fórum, Rebelo defende contumaz que assim como a história do Brasil mostra que o país foi construído por meio de alianças heterogêneas, seu presente e seu futuro dependem disso. A agenda imposta goela abaixo pelo mundo ao Brasil é a do entretenimento, de uma ecologia sem desenvolvimento e de uma democracia sem nação.
Como prova a história do país, somente a aliança entre setores diferentes e aparentemente inconciliáveis é capaz de restabelecer e continuar construindo o país que queremos. Somente a retomada de alianças heterogêneas é capaz de continuar a construção do Brasil, porque a agenda do Brasil para o Brasil deve ser a agenda de uma nação democrática. Só é possível uma democracia profícua se há uma nação forte. A questão democrática é, na vida vivida em comunidade, dependente da questão nacional.
E é isso que vários setores lutam dia sim e dia também pra nos fazer esquecer. Alianças heterogêneas precisam ser retomadas a um só troco e um só espírito: a de defendermos e termos um coração plural e uma mente diversa, mas autônoma o suficiente para definirmos por nós mesmos nossa vida atual e futura.
Se, como Rebelo acredita, todos os movimentos que construíram o Brasil exige a questão nacional, o quinto movimento ainda à espera de ser feito exige o Trabalhismo.
Não há futuro do país sem o Trabalhismo brasileiro, assim como não houve passado sem ele. (Para aqueles que acharem essa ideia “forte de mais”, então, no mínimo, digo o seguinte: assim como não houve um país passado sem Trabalhismo, um país do presente e do futuro requer o reconhecimento de que só poderemos ver mais longe porque estamos nos seus gigantescos ombros.)
O Trabalhismo, plural e diverso, não deve ser confundido com nenhuma forma de relativismo. Nenhuma faceta relativista (pós-modernista, identitarista, neoliberal etc) é compatível com o Trabalhismo. Porque o relativismo é força que fragmenta e o Trabalhismo é a unidade dos diversos e do plural. Pelo seu núcleo comum, o Trabalhismo é força de resistência contra a fragmentação do país; é a inclusão de todos os brasis em uma nota só. E é verve propositiva de soberania. Como disse o professor Nildo Ouriques, o Trabalhismo se fundamenta, necessariamente, no anti-imperialismo e no nacionalismo sem ambiguidade.
Assim, o Trabalhismo é a ideologia da soberania nacional. Mas também é a ideologia do trabalho livre, da justiça social e do desenvolvimento econômico sustentável. Parafraseando o que disse o jornalista de economia Fausto Oliveira no Fórum, o Trabalhismo é a vontade de fazer com que o nosso país consiga viver em sua plena capacidade política, social, econômica, ecológica e cultural. O Trabalhismo é a expressão ideológica de amor ao Brasil, aos nossos antepassados, a nós mesmos e às gerações que virão.
Como disse o comandante Robinson Farinazzo, o Trabalhismo exige um projeto de país, que mesmo tendo divergências em seus caminhos, tem propósitos em comunhão com nossa identidade acolhedora e pungente: objetivos de curto, médio e longo prazos, compartilhados em nossa mente, coração e chão.
Todo projeto trabalhista busca ininterruptamente pela realização e manutenção de uma nação soberana, em permanente desenvolvimento econômico sustentável da maneira mais justa disponível, efetivado por um povo em que cada pessoa tem em seu próprio trabalho a realização de seu sentido de vida e o conjunto das condições materiais pro seu próprio florescimento pessoal e coletivo.
O Novo Trabalhismo continua em construção. E como eu disse, não cabe a mim nem a uma só pessoa defini-lo. Muitas outras vozes e perspectivas, oferecidas neste primeiro Fórum e que serão ainda proferidas, devem compor a revisão e atualização da única ideologia que nos trouxe até aqui, que mantém o Brasil contemporâneo pelo fio ideológico e material que ainda lhe sustenta e é orientação para o Brasil que queremos.
Pois, o Trabalhismo brasileiro é a melhor ideologia que menos teve falhas para a nossa felicidade, com sua diversidade ampla o suficiente para representar a pujança do povo e estreita na necessidade de reconhecer e tentar ampliar sua autonomia.
Mesmo diante desta mal rabiscada síntese das atiçantes discussões do Fórum, entendo que pelo menos o que registrei aqui é a definição da cosmovisão do Trabalhismo brasileiro, o que foi apresentado e discutido por algumas das principais mentes brasileiras que tive a honra de ver de perto.
O Novo Trabalhismo continua em construção e com ela a instilação da esperança em um Brasil que finalmente volte a florescer e realize seu potencial de ser a Nova Roma da nova ordem mundial como sonhou Darcy Ribeiro.
Pra quem quiser conferir o Fórum completo, ele tá disponível numa série de vídeos no YouTube, principalmente na aba ‘Ao vivo’ no canal Frederico Krepe, aqui.